segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

QUAL É O PONTO DE REFERÊNCIA?

CAPÍTULO 3
QUAL É O PONTO DE REFERÊNCIA?


Afinal? Estou contando uma história minha? Deixo aos interessados leitores à sombra da dúvida. Minhas palavras só sei que são como as chuvas, imprevistas, devastadoras, como a imagem de um cataclismo que deixa só um poeirão. Conto também para passar o tempo, colocar as coisas no lugar, porque meu terapeuta diz que faz bem. Preso e livre. Bebendo com moderação, fumando com moderação, dirigindo com moderação, trepando (desculpe a palavra) com moderação. E que antes daqui eu era um grande exagero de tão poucas coisas. Para mim, fama, mulher, noitada, dinheiro, velocidade, safadeza, bastava para me nutrir.
Lembro-me que Sara estava sentada com duas amigas usando um binóculo. E olhava e rachava o bico. E olhava e rachava o bico. E... Fiquei curioso, ao mesmo tempo em que insensivelmente pensei que não era preciso nada disso para chamar a atenção. Baixinha, cabelos encaracolados e negros, com um colo tão branco que dava para ver a parte das costas. Sei lá, os hormônios na adolescência parece que faz a gente ver as pessoas brilhando e chamando pro sexo, quase sempre, pra se amar, pra curtir enfurecidamente longas horas, noite a dentro, num quarto humilde, mas bem pessoal.
─ Eu quero sair com você!
Achei doce, legal, a iniciativa que Sara estava tendo ao me chamar para beber. Sai com ela, fomos a um bar famoso, à beira do Grande Lago. Era uma grande festa: haviam levado a melhor banda de Hardcore e capricharam na decoração, simples, apagaram 50% das luzes, liberaram a entrada das mulheres até a meia-noite. Sara e eu conversamos coisas diversas, das quais não lembro, e nem sei se ouvi bem, não lembro. Fingi interesse, mas meus olhos não tiravam os olhos daquela boquinha carnuda e vermelha que sempre repetia:
─ Entendeu?
O que obviamente eu respondia que sim com um sorriso insinuante e aquele olhar raio x adquirido com muito treino e observação do gênero feminino, que eu muito gosto. Obviamente também as repetições facilitam lembrar dos dias, verbalizar os dias, rever. Sara e eu, nós nos beijamos e nos esfregamos durante umas 5 horas na escada que dava acesso aos quartos do pensionato. Ali na escadaria mesmo, colei-a a parede beijando e sentido o gosto daquela carne branca do pescoço e a nuca. Ela dava gemidos baixinhos e sorrisinho pela metade. A mão direita escorregou pelas costas dela e subiu para agarrar aqueles lindos cabelos negros, foi uma pegada firme, puxada digna das cenas mais fortes daquele capítulo da novela de ontem. A mão esquerda obviamente escorregou em sentido oposto, para a bunda dela. E como Sara beijava gostoso, é lembrança do gosto daquele beijo. Meio molhado, às vezes parecia que ela tinha naquele momento uma comunicação aberta com as deusas beijoqueiras mais gostosas descendentes de Afrodite. Uma vez eu sonhei com um baile funk só com as deusas gregas, uma rave de belezinhas, numa putaria colossal. Mas aquela noite ficou só na pegação. Na outra noite, com uns vinhos na cabeça, fomos para a cama... Ela havia me convidado para beber vinho, na casa dela. Daí, me passou endereço:
─ Fica no segundo ponto, depois da Grande Catedral!

A VIRTUDE QUE NASCE À BEIRA DO ABISMO

CAPÍTULO 2
A VIRTUDE QUE NASCE À BEIRA DO ABISMO

A virtude é como um câncer porque creio que espera encontrar nesses relatos um pouquinho mais de esperança, misericórdia ou mesmo fé. Verá que já é a hora porque minha essência é feliz. Me tornei árvore mais forte com o vento que os anos castigou e direi sorrindo que tornei-me ser melhor... Graças.
─ Moleque! Vê se aprende e vira homem...
Ouvia sempre de meu pai essa frase de efeito. Mas, no meu caso, a responsabilidade precoce e uma facilidade para ganhar dinheiro inverteram seus papeis: comprei minha primeira moto aos 12, e aos 20, fiz meu primeiro milhão... Mentira! Nunca tive mais de R$5.000,00 na conta.
A moto, eu, acredite se quiser, ganhei numa rifa da quermesse da São Joaquim. Eu não acreditava nesse papo de sorte (A minha sorte eu fazia, Holliwood). Ia à festa da Igreja para tomar vinho quente e quentão e ver as meninas dançar, claro. Festa Junina virou balada da moda: o padre falando para as pessoas consumirem as coisas e comprarem as rifas, ofertas ao Senhor, coisa e tal; o D.J. toca música bem sexy (Rap, Boy Band, Space Gils, Lambada, Abre a rodinha, meu amor, abre a rodinha, sem falar nas atuais, alguma coisa como Venha para a minha fábrica de chocolate, tudo bem Holliwood).
Esse papo me endoida é bem racional e toda razão em ser. Da malandragem, aprendi que cavalo dado não se olha os dentes, no caso específico da moto, foi a rifa que comprei das mãos da carolinha mais sem vergonha da festa, Rúbia. Foi a primeira garota que subiu na garupa da minha moto. Vocês já viram como as loiras, também as falsas loiras, ficam bem, de shortinho, na garupa de uma moto? Bem...
─ Eu não te falei que ia te dar sorte, campeão!
E me deu, uma grande e bela sorte, minha primeira moto, minha primeira transa, aos 12, idade razoável para se começar a vida sexual para um menino de periferia e desses casos em que a molecada perde o cabaço na quebrada, tenho mil para contar.
Hoje a molecada não está perdoando, é geração internet. Me contaram que a filha de uma dependente aqui da clínica, de apenas 11 anos, fez um filminho com mais dois meninos, ambos de 13. Gravaram tudo no celular e dividiram as imagens com os colegas da escola. Acho que por isso a mãe não agüentou a barra e se afundou mesmo. Deve se sentir culpada e é culpada mesmo. Sempre foi daquelas mães vagabundas, que enchem a cara no boteco e fica dando para qualquer Zé Mané que pagar a bebida e ri bem alto na rua e chama a atenção pela roupa ridícula e micro. Do tipo de mãe que passa maquiagem na filha e veste saia curtinha e adora ver a criança dançar até o chão umas músicas com linguagem e intenção inapropriada para menores de idade. Depois vai dizer para os outros que a culpa não é dela, fazer cara de coitada, cara de Holliwood.
─ Eu não falei que ia te dar, campeão!!!