Eu queria ser escritor. Eu sempre quis ser escritor, desde os tempos que eu falava como criança, tinha voz de criança e fazia coisas de criança e nenhuma peluginha no rosto. Por querer ser escritor, procurei alimentar-me do néctar das ideias que é a leitura: de A a Zinco. “De referências em referências, o pós-moderno compõe suas demências.
Nuvens escuras anunciam o fim da tarde fria. Nem vontade de escrever, nem saudade de um sonho antigo. Réquiem de reminiscências. A cabeça dói, meus ombros pesam uma tonelada. Melhor que chamar um grampeador de filho.
Há dias de calor tremendo e palavras saborosas. Eita vontade de ouvir a chuva cair no telhado. Hoje vai até mais tarde, então não tenha pressa, meu amor. Procure o buraco no muro. Eu só tenho um olho. Quando a gente só tem um olho, a gente olha com o outro. Por que em terra de gente ignorante quem tem ideias é mendigo. Porque em terra de caolho quem tem um olho é mais um. A gente vai desconstruindo, coisas do sistema, as palavras, os poemas, a gente vai diluindo tudo e mistura com lixo tóxico. A entranha dos sensabores. Prazer em não fazer sentido.
Quero mesmo é entregar-me à loucura. Saber que quem me ouve, ouve porque gosta mesmo e é sem juízo. Já não tenho mais aquela vaidade egoísta e assumo o risco. Nem medo mais em parecer ridículo como são piegas as cartas de amor. Podemos falar de amor mesmo sem ter ninguém para amar porque amor é entidade e não mero sentimento. Se eu só tenho um olho, eu sou caolho? Sou digno da visão tridimensional.
Realidade virtual, roubaram-lhe o fôlego e você ficou plasmático: O que os olhos não vêem o coração não sente. Atuo entre bytes, mas queria ver meu livro publicado, ser escritor, antiquado, porque isso é concreto...
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
quinta-feira, 16 de agosto de 2012
Lázaro – 2012
Lázaro
das trevas enxergou a luz. Era a paisagem para o retorno. Foi num domingo que o
palhaço retornou aos palcos porque para ele o primoroso creme era o crime,
desembarque de seu avião de reminiscências... Pode um bárbaro morrer engasgado
com bolacha de água e sal? Era Lázaro, o Piolho, o Enxada, o Guarda-Roupa, o
Pescoço, o Telha Verde, abrindo a porteira que encerrava o Hades, e o iniciava
também.
Vigiado
por olhos estadistas, o homem caminha, muros altos, colinas. Sente o peso das
sentenças no peito, caminha. Lázaro livre, o mundo por revisitar. Logo a
frente, o lance final de dados, corredores infinitos, a rua já vibrava suas
entranhas. O som da liberdade é o ruído do motor a disel do ônibus público. Eis
o que mais o atormentava no presídio: gemidos inexprimíveis.
Ninguém
por dar-se falta entre os muros, ninguém fora, um universo de solidão. Lázaro
não vê o que ninguém vê, rostos a se reconhecer. Respira fundo, projeta-se para
fora abortado. Passou um leve desejo de voltar, mas o sistema não suporta, sua
preda fria já comportava outro moribundo, e outro, e outro, mais outro. E se
fosse Raimundo não seria uma rima, mas uma constatação.
̶ Vai para onde, moço?
̶ Dirige esse trem, que eu só desço no final!
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