quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Eu só tenho um olho

Eu queria ser escritor. Eu sempre quis ser escritor, desde os tempos que eu falava como criança, tinha voz de criança e fazia coisas de criança e nenhuma peluginha no rosto. Por querer ser escritor, procurei alimentar-me do néctar das ideias que é a leitura: de A a Zinco. “De referências em referências, o pós-moderno compõe suas demências.
Nuvens escuras anunciam o fim da tarde fria. Nem vontade de escrever, nem saudade de um sonho antigo. Réquiem de reminiscências. A cabeça dói, meus ombros pesam uma tonelada. Melhor que chamar um grampeador de filho.
Há dias de calor tremendo e palavras saborosas. Eita vontade de ouvir a chuva cair no telhado. Hoje vai até mais tarde, então não tenha pressa, meu amor. Procure o buraco no muro. Eu só tenho um olho. Quando a gente só tem um olho, a gente olha com o outro. Por que em terra de gente ignorante quem tem ideias é mendigo. Porque em terra de caolho quem tem um olho é mais um. A gente vai desconstruindo, coisas do sistema, as palavras, os poemas, a gente vai diluindo tudo e mistura com lixo tóxico. A entranha dos sensabores. Prazer em não fazer sentido.
Quero mesmo é entregar-me à loucura. Saber que quem me ouve, ouve porque gosta mesmo e é sem juízo. Já não tenho mais aquela vaidade egoísta e assumo o risco. Nem medo mais em parecer ridículo como são piegas as cartas de amor. Podemos falar de amor mesmo sem ter ninguém para amar porque amor é entidade e não mero sentimento. Se eu só tenho um olho, eu sou caolho? Sou digno da visão tridimensional.
Realidade virtual, roubaram-lhe o fôlego e você ficou plasmático: O que os olhos não vêem o coração não sente. Atuo entre bytes, mas queria ver meu livro publicado, ser escritor, antiquado, porque isso é concreto...

Nenhum comentário: