Lázaro – 2012
Lázaro
das trevas enxergou a luz. Era a paisagem para o retorno. Foi num domingo que o
palhaço retornou aos palcos porque para ele o primoroso creme era o crime,
desembarque de seu avião de reminiscências... Pode um bárbaro morrer engasgado
com bolacha de água e sal? Era Lázaro, o Piolho, o Enxada, o Guarda-Roupa, o
Pescoço, o Telha Verde, abrindo a porteira que encerrava o Hades, e o iniciava
também.
Vigiado
por olhos estadistas, o homem caminha, muros altos, colinas. Sente o peso das
sentenças no peito, caminha. Lázaro livre, o mundo por revisitar. Logo a
frente, o lance final de dados, corredores infinitos, a rua já vibrava suas
entranhas. O som da liberdade é o ruído do motor a disel do ônibus público. Eis
o que mais o atormentava no presídio: gemidos inexprimíveis.
Ninguém
por dar-se falta entre os muros, ninguém fora, um universo de solidão. Lázaro
não vê o que ninguém vê, rostos a se reconhecer. Respira fundo, projeta-se para
fora abortado. Passou um leve desejo de voltar, mas o sistema não suporta, sua
preda fria já comportava outro moribundo, e outro, e outro, mais outro. E se
fosse Raimundo não seria uma rima, mas uma constatação.
̶ Vai para onde, moço?
̶ Dirige esse trem, que eu só desço no final!
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