quinta-feira, 16 de agosto de 2012


Lázaro – 2012

                Lázaro das trevas enxergou a luz. Era a paisagem para o retorno. Foi num domingo que o palhaço retornou aos palcos porque para ele o primoroso creme era o crime, desembarque de seu avião de reminiscências... Pode um bárbaro morrer engasgado com bolacha de água e sal? Era Lázaro, o Piolho, o Enxada, o Guarda-Roupa, o Pescoço, o Telha Verde, abrindo a porteira que encerrava o Hades, e o iniciava também.

                Vigiado por olhos estadistas, o homem caminha, muros altos, colinas. Sente o peso das sentenças no peito, caminha. Lázaro livre, o mundo por revisitar. Logo a frente, o lance final de dados, corredores infinitos, a rua já vibrava suas entranhas. O som da liberdade é o ruído do motor a disel do ônibus público. Eis o que mais o atormentava no presídio: gemidos inexprimíveis.

                Ninguém por dar-se falta entre os muros, ninguém fora, um universo de solidão. Lázaro não vê o que ninguém vê, rostos a se reconhecer. Respira fundo, projeta-se para fora abortado. Passou um leve desejo de voltar, mas o sistema não suporta, sua preda fria já comportava outro moribundo, e outro, e outro, mais outro. E se fosse Raimundo não seria uma rima, mas uma constatação.

                ̶  Vai para onde, moço?

                ̶  Dirige esse trem, que eu só desço no final!

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