sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO 4 - Balão, samba e futebol, no acúmulo da sul

Briga, eu nunca aprovei e digo: se possível, sai correndo, não é covardia. Naqueles tempos de várzea, já morria muita gente com as narinas entupidas de cocaína. Eram os anos 80... Não tem truque... Você fica na parte de cima do morro, longe da mulher do cachaceiro, porque alguém vai acabar dando um tiro... Bem de manhãzinha, pode pesquisar, muito baloeiro se reunia no campo do Grande Time, lá para as bandas do Jardim Progresso. Meu pai me acordava bem cedo, nunca gostei de acordar cedo, e falava que estavam soltando balão lá no campo.

Moleque, sabe como é, gosta pouco destas coisas. Eu e meu pai ficávamos a certa distância. A rapaziada ia chegando, enchendo aqueles balões imensos. A cangalha explodia sua magia furiosa no céu que quase sempre ofuscava de tão azul:

─ Aquele parece o Vasco da Gama.

E eu via subir um balão todo branco com a cruz preta, parecia mesmo uma homenagem ao Vasco. A horda era imensa. Gente muito louca e apressada, era soltar o balão e correr para o carro. Eu não conseguia nem imaginar onde ele iria cair. Hoje sou mais político no assunto, um sujeito, como dizem, global. Criançada, não podemos soltar balões porque eles são vilões da natureza (adaptado de cartilha de ensino infantil).

Daí começava o torneio. Partida inesquecível: O Jabaquara estava nos visitando. Batucada e perninha fina de metida a sambista encarando o meu pai para pagar uma cerveja. Daí o velho me apresentava:

─ Esse é meu garanhão!

Naquela época, eu nem sabia o que significava a palavra “garanhão”, isso só ganhou sentido na boca de muitas Saras. Sei lá, lembrei disto por distração, ou mesmo tesão. Porque vou lembrando e a cadência daqueles sambas antigos é o que dita o ritmo deste som.

Voltando ao jogo, o Jabaquara goleou, meu pai dizia que aquele time era do caralho (não com essas palavras, mas com palavras aproximadas). Ninguém ameaçou o time contrário, até porque a velha guarda sabia do peso e do lugar místico a qual se situava o Jabaquara. Talvez, nem Pelé, Pepe e Coutinho pudesse fazer jogo fácil com os mágicos daquele time. Tempo bom.

Daí, percebi que meu pai bebia cerveja, aos finais de semana, quando íamos para o campo do Grande Time e no restante dos dias cachaça mesmo, no bar, jogando o joguinho: sinuca, dominó e baralho, valendo uma dose de Ypiocá, que era luxo na época, a Grande Caninha. Bem de cima do morro, vi subir um poeirão e gente saindo daquele furdunço vomitando os bofes. Tiros. O bêbado estava armado, a mulher meio breaca, o rapaz bastante excitado passou a mão na proibida. Acabou o batuque e ainda não sei se o pedaço de madeira cravado no meu braço era do tamborim que se dissolveu na confusão.

A polícia demorou a chegar, esbaforidos fomos contar a confusão para a mãe, era dia de faxina, nada a distrai, nada a acalma, nem pastel, nem caldo de cana, simples assim. Entrar em casa e sair rapidinho. Meu pai era mestre em artifícios e se hoje eu sou assim, meio non sense, graça a ele, meu pai.

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