sábado, 12 de fevereiro de 2011

CAPÍTULO 5 - Depoimento

CAPÍTULO 5

Depoimento

Clínica de Reabilitação, Brasil, muitos dos meus heróis morreram de overdose, ou estão recolhendo seus cacos, num chinelinho havaianas e tocando o terror naquela porcalhada do centro, Santa Efigência, maldito caminho das pedras. Para falar a verdade, não há nada glorioso no hábito do cachimbo infernal. Se há sexo no meio, ele não é o fim. Se há dança, acredito que da morte, lago dos cisnes negros, fumacinha que te integra às grades de imensa prisão. E todo depoimento de dependente químico aqui da clínica é parecido, sem muita variedade, é conhecer esse universo e sucumbir, com chances reduzidas de levantar, as asas de qualquer Fênix previamente cortadas:

“Quando eu conheci o crack, minha vida acabou, me prostitui até que fui morar embaixo do viaduto. ‘Tava passando em frente a um grupo, de auto-ajuda, né! Ai, eles me falaram que iam me levar para uma clínica e... só que como no processo de tratamento me veio uma recaída emocional muito grande porque os meus pais, sabe, eles não aceitavam muito ainda. Teve um dia que eu tive um despertar espiritual, não!, vou voltar para aquela clínica e vou ficar. E ai, até uma flor assim e eu falava: nossa! Eu tava... Comecei a viver de novo. Já passados seis meses de internação, eu tive a primeira visita, a minha família, a comunidade e aquele dia foi muito bom, eu vi que apesar de tudo eu não estava sozinha. A minha superação veio do amor incondicional. O amor me salvou, talvez sem o amor, eu não teria sobrevivido”.

Daí subiu ao púlpito um especialista no assunto que colocou um vídeo para assistirmos:

“Bastam dez segundo e o efeito do crack é fulminante:

─ Vendi tênis, roupa do corpo, penhorei um carro na boca por 100 pedras.

O crack também está sendo consumido por pessoas da classe média e da alta. Um estudo mostra que o consumo do crack quase dobrou. Na cidade de São Paulo, estima-se que 70.000 pessoas usem a droga. No Rio Grande do Sul, 50.000 dependentes e no Rio de Janeiro, uma mistura com maconha é celebrada em sites de relacionamento:

─ Quem usa crack não tem muita escolha: ou faz um tratamento, ou vai acabar parando em uma prisão, ou vai acabar morrendo, não tem jeito.

Uma pedra de crack chega a custar menos que uma garrafa de cerveja, mas custa muito caro para o governo. Tratamento particular, então, cerca de R$8,000,00 por alguns meses. O dependente fica internado e num primeiro momento, acredita que está numa prisão. Depois de algum tempo, muitos conseguem entender que para realmente tornarem-se livres precisam de cadeados, portas e de muitas grades, não conseguem mais se proteger de si mesmos. Este homem tem 42 anos, três filhos e foi criado por uma família de classe média alta. Só nesta clínica é a 4ª vez que tenta o recomeço. Para cada um dos 24 homens a experiência é diferente: na maior parte do tempo, eles tentam recupera a saúde e a fé, a esperança de que algo importante os espera em casa, redescobrem o prazer sem vícios.”

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